Escritos de Amigos

Você está aqui: Home | Artigos | escritos de amigos

A natureza humana existe e como manda na gente, por Francisco Daudt.

 

A natureza humana existe e como manda na gente.

Francisco Daudt.

 

 

- maluco, Dr. Daudt? Todo mundo sabe que a natureza humana existe! É que nem a piada do sapo e do escorpião, quando ele pica o sapo no meio do rio e os dois vão se afogar, e ele diz: "Eu não posso fazer nada, é da minha natureza..." [Osório diz: não sei se eu chamaria de piada, mas se trata daquela lenda moral em que o escorpião pede ao sapo que o atravesse o rio levando-o nas costas. Depois de relutar, com medo de ser picado, mas com a promessa do escorpião de que não faria mal algum, o sapo aceita. No meio do rio o benfeitor é picado por quem lhe faz o bem!].

 

- Ai é que está, amigo. Para os bichos, todo mundo reconhece que eles têm natureza, que têm instintos. E você não está de todo errado. 0 que acontece é que você é engenheiro, um homem das ciências exatas. 0 mais engraçado é que você tem a companhia dos não formados e do senso comum Qualquer pessoa vai dizer: "Isso ele puxou da família do pai', e ninguém discorda.

 

Mas na Academia, no mundo das universidades, das pessoas letradas, a coisa é diferente. Eu, psicanalista, sou das humanas, como a psicologia, a sociologia, a antropologia, as politicas, a história etc. Pois você acredita que essa turma passou afirmando, desde seu nascedouro, que o ser humano era uma criatura em separado do resto dos bichos? Pode ter começado como coisa religiosa, mas depois, sobretudo depois de Marx, mudou para a "tábula rasa".

 

Para eles o ser humano nascia como uma folha em branco, e ele seria o que a "cultura" (os conhecimentos transmitidos) escrevesse nele. Ninguém explicava de onde tinha vindo a tal da cultura, mas ela era a origem de todas as malvadezas do ser humano: [13] a ganância, a trapaça, a inveja, o ciúme, a cobiça, a traição, a exploração de um pelo outro e, é claro, as desigualdades e o capitalismo. Mas as bondades também: o comunismo iria pegar as crianças e forjar o puro e novo homem, escrevendo nele so belezas. Era a continuação da crença no "bom selvagem de Rousseau. Ele acreditava que os silvícolas, vivendo alheios à civilização, seriam a personificação do homem ideal do comunismo: não contaminados pela praga urbana dos maus sentimentos.

 

Esse tipo de pensamento dominou as ciências humanas desde então.

 

0 que é a natureza humana, afinal? Pense num computador. Quando você o compra, ele já vem com um monte de programas instalados. Somos nós, quando nascemos. E isso é a natureza humana. Depois você acrescenta outros que te interessam (seria a cultura"), que ele sorve porque já tinha aqueles programas do nascedouro. Eu acho que a comparação está boa. Veja como um bebé vira a cabeça para o lado certo quando é posto para mamar. Ou como chora com seus incômodos. Ninguém ensinou essas coisas a ele. É do seu programa operacional. Por que temos medo de altura, do escuro, de insetos voadores, baratas e cobras? Tivemos aulas disso? [Osório diz: isto não é uma definição, mas um exemplo, que é razoável, mas não ajuda muito a esclarecer esse tema intrincado e que me levou a comprar o livro!].

 

As crenças das ciências humanas afetam nosso dia a dia. Minha filha voltou da escola me contando que teve que preencher um formulário onde Ihe perguntavam sua raça. Ora, não existem diferentes raças em nossa espécie, portanto escreveu: HUMANA. No dia seguinte a professora censurou-a por debochar do questionário. Ela respondeu (porque já tinha conversado comigo) que havia respondido da mesma maneira que Albert Einstein, em Ellis Island, EUA, 1937, e perguntou se a professora não achava que era um bom exemplo. Como foi aplaudida por toda a sala professora se calou. [Osório diz: vejam aqui e ali e acolá, como as citações de Einstein nunca indicam a fonte para que se possa pesquisar. Ele disse é o suficiente? Para mim, não!].

 

Mas fico pensando em quantas crianças foram forçadas a se rotular brancas ou negras, importando um ódio racial de uso totalitário, semelhante à ideia de que somos seres vazios, prontos para mais "sábios" preenche rem ao sabor de seus interesses.

 

É bem verdade que nossa natureza foi capaz de produzir nossa cultura, e foi a cultura, através de seus pensadores e líderes (como Hammurabi, Aristóteles, Platão, Cristo, Kant, John Stuart Mill e outros), que gerou a ética, as leis de convivência que nos regem. Ela não poderia [14] sair diretamente do selvagem, de nossa natureza, que de bondosa tem poucas coisas em suas raízes, ao contrário do que pensavam Rousseau e os comunistas. [Osório diz: vejam que o autor conhece Marx! Ele o cita logo acima, na p. 13. Por que o omite aqui, uma vez que a doutrina dele é mais importante que a de muitos citados? Isso se chama “doutrinação cultural”! O autor quer que você saiba apenas sobre os pensadores e líderes que ele cita.].

 

Não foi à toa que Charles Darwin relutou tanto em publicar seu livro sobre a seleção natural aplicada aos humanos. Era um tabu considerar o ser humano como mais um bicho, apenas.

 

E, de fato, muita gente viu na obra de Darwin uma boa "base cientifica para explicar seu comportamento selvagem. Os capitalistas americanos do século XIX, gente como Mellon e Rockefeller, desandaram a aplicar uma selvageria empresarial que incluía o monopólio, o cartel e o dumping para arrasar competidores, pois nada mais faziam, segundo eles, que aplicar os ensinamentos de Darwin: a sobrevivência do mais forte. Chamava-se isso de darwinismo social. [Osório diz: eles, os capitalistas, não perdem a oportunidade para buscar a escravização dos demais seres humanos!].

 

Acontece que Darwin nunca postulou tal coisa, mesmo na natureza. Ele disse que os mais adaptados sobreviveriam. Foi assim que os pequenos mamíferos sobreviveram à catástrofe que dizimou fortíssimos e enormes dinossauros, pois precisavam de muito menos alimentos. É por isso que nós, descendentes daqueles bichinhos fracos, estamos aqui.

 

Dessa maneira, as influências biológicas no comportamento humano ficaram malvistas por décadas. Quando Edward O. Wilson publicou, em 1975, seu livro Sociologia: uma nova síntese, os acadêmicos marxistas (quase uma redundância, na época) das humanas se levantaram numa grita enfurecida, como se estivessem vendo a ressurreição do demônio. Acreditavam que a mente humana pudesse ser modelada como massinha de criança, e como alguém se atrevia a dizer que nosso comportamento era "determinado" pelos genes, que tínhamos "instintos" como os outros bichos, e o nosso livre-arbítrio? [Osório diz: ele não diz uma vírgula sobre a revolta dos religiosos e criacionistas. Aqueles que acreditam que um deus fez o homem do barro! Quem olha para a comunicação de massa sabe que o que diz o autor não é bem assim! Que nada se sabe sobre o funcionamento da mente, apenas que ela funciona!].

 

Décadas se passaram até que a psicologia evolucionista ganhasse a credibilidade que hoje tem.

 

Este livro trata da influência que a genética tem sobre nosso comportamento, apesar de que algumas coisas sejam mesmo determinadas por nossa natureza, como, por exemplo, nossa preferência sexual.

 

Mas o objetivo aqui é seguir o principio exposto por Spinoza (filósofo holandês do século XVIl) de que a liberdade consiste em conhecer os cordés [15] que nos manipulam. É a única coisa que nos dá alguma margem para dirigir nossas vidas. E os nossos genes são grandes puxadores de cordéis. [Osório diz: a comunicação de massa, como disse acima e a imprensa, em particular, sabem disso. Esta última vive criando a “tal de opinião pública”! Ela a cria e depois se vale dela para dizer que é seu fundamento de publicar/agir!].

Finalmente, outro filósofo, Schopenhauer (alemão, século XIX) disse uma bela verdade: você pode fazer o que quer. Mas você pode escolher o que quer? Pode amanhecer e dizer: "Hoje vou querer me apaixonar por um rinoceronte? Difícil, não? Ou seja, há algo direcionando os nossos desejos, e a biologia é grande parte disso. [16] [Osório diz: sim! A biologia! Ainda não diferenciamos tanto dos demais animais como alguns animais humanos pensam! Aliás, em alguns casos, seria até melhor se regredíssemos! A uma amizade canina, por exemplo].

 

RESUMO: Osório diz: até aqui, tirando a citação de Spinoza, a coisa não fluiu nada bem para este leitor.

 

Fonte: obra citada, Editora Casa da Palavra. São Paulo, 2013, p. 23-26.