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“É preciso estudar até morrer”! Aguinaldo Silva.

“É preciso estudar até morrer”!

 

 

Faz tempo que deixei de assistir novelas, eu que já fui um “novelista militante”!

 

Sendo assim, com má vontade fui ler uma entrevista de Aguinaldo Silva, um autor de novelas (aliás fiquei sabendo na matéria que a novela “Roque Santeiro” é de sua autoria, eu que jurava ser do Dias Gomes! Lendo e desaprendendo!), publicada em um jornal, quando me deparei com essa pérola dita por ele:

 

O que falta?

 

Estudar, os dramaturgos precisam estudar sempre. Veja os americanos. Eles são bons por isso. Ninguém escreve uma peça que vai ser produzida sem que tenha passado por uma escola, sem que tenha escrito muito e principalmente que tenha errado muito. E eu até hoje estudo. Acabo de comprar um livro da Stella Adler sobre a entrada do realismo no teatro americano, quero entender esse processo. Admiro muito aquela geração que fez da prática uma forma de ensinar. É preciso estudar até morrer.”

 

Fiquei moirrendo de vontade de voltar às novelas por conta dessa linda lição de vida do autor!

 

Obrigado por essas palavras Aguinaldo Silva! Por elas, você já está na Academia Osoriana de Letras, cuja sede fica no meu coração!

 

Inté,

 

Eis a entrevista completa:

 

 

“ArCênico: 'Sinto falta hoje de uma boa dramaturgia brasileira', diz Aguinaldo Silva

Dramaturgo, escritor, roteirista e jornalista falou sobre a abertura de seu teatro em SP

Prestes a completar 75 anos em 7 de junho, o autor das novelas Tieta e Roque Santeiro passeia orgulhoso pelo teatro que leva seu nome, Casa Aguinaldo Silva de Arte, ou simplesmente Casa. Pernambucano de Carpina, Silva voltou, no ano passado, a morar em São Paulo depois de 30 anos e trouxe para a cidade seus cursos de formação de atores para teatro, cinema e televisão, além do masterclass de roteiro.

 

O autor falou ao Estado na véspera da abertura do teatro, na rua Major Sertório, e criticou a dramaturgia brasileira contemporânea. E adianta que, em seu teatro, deve entrar na programação um standup comedy mensal chamado A Noite das Mina, só com travestis. “Para manter o espírito da região”, brinca.

 

Por que decidiu financiar a nova peça de Marilia Gabriela?

 

Somos muito amigos e senti que ela tinha se apaixonado pela peça (‘Casa de Bonecas - Parte II’, de Lucas Hnath, no Sesc Consolação, no início de agosto). Como estava encontrando certa dificuldade para montar, pedi para ler e fiquei empolgadíssimo. Acho um crime essa peça não ser montada aqui e, mais ainda, da maneira ideal. Nós temos muitos hipermilionários que não fazem isso e, alguns, depois de insistirmos bastante, decidem contribuir por meio da Lei Rouanet, o que não adianta muita coisa. Eu posso fazer isso, posso fazer meus cursos masterclass e até financiar prêmios de roteiro, como também já banquei. Consegui coisas na vida e acho que preciso de alguma maneira devolver. Quem sabe abre um caminho pra gente lá em cima? (aponta o céu)

 

Tem ido ao teatro?

 

Sempre, mas, como tem muita peça em cartaz, geralmente vou por indicação. Vejo tudo o que posso, menos musicais. Está se gastando muito dinheiro com musicais pobres em qualidade em que se faz muito carnaval em torno deles. Te pergunto: para quê um musical sobre Ayrton Senna (‘Ayrton Senna, o Musical’)? Não tem dramaturgia, são só fogos de artifício.

 

Estamos sem uma boa dramaturgia hoje?

 

Acho que sim, sinto falta hoje de uma boa dramaturgia brasileira. De vez em quando, vemos algumas coisas interessantes, como uma peça que assisti na SP Escola de Teatro, na praça Roosevelt, chamada As Quarenta e Duas. Era uma peça linda, tão bem ensaiada, produzida e dirigida que era hipnótico. Mas não tinha dramaturgia, apesar de linda. O que era aquilo, afinal? Não era nada. A gente vê muito isso. Ou coisas como O Diário da Frida Kahlo. Aquilo não é teatro, né? Simplesmente transpor o texto do diário para o palco e não criar uma dramaturgia não é teatro. A gente tem muito isso. Claro que há coisas muito boas, mas é preciso garimpar.

 

O que falta?

 

Estudar, os dramaturgos precisam estudar sempre. Veja os americanos. Eles são bons por isso. Ninguém escreve uma peça que vai ser produzida sem que tenha passado por uma escola, sem que tenha escrito muito e principalmente que tenha errado muito. E eu até hoje estudo. Acabo de comprar um livro da Stella Adler sobre a entrada do realismo no teatro americano, quero entender esse processo. Admiro muito aquela geração que fez da prática uma forma de ensinar. É preciso estudar até morrer.”

 

Fonte: OESP, 24.05.18.