A despeito de elucidativo em poucos pontos, o artigo do jornalista citado no título deste escrito é muito banal! Chega quase a ser bobo!
O autor afirma que a Itália funciona com ou sem governo, o que é uma tremenda falta de visão ou má-fé, pois não pode ser atribuída sua afirmativa a sua "ignorância", já que ignorante ele não o é!
Clóvis Rossi chega a ser injusto, pois omite aqueles que fazem a Itália funcionar "mesmo sem governo", como ele diz.
E quem faz a Itália funcionar mesmo "sem governo"?
Você que é imigrante, tente entrar na Itália "sem governo" para ver o que acontece!
Vou ficar neste único exemplo para não ser cansativo.
É claro que a Itália, desde a data citada pelo jornalista, NUNCA ficou sem governo, como ele diz!
Lá estão os médicos, os bombeiros, os juízes e a polícia, por exemplo, a cumprirem o seu papel.
E quando tais Instituições cumprem com seu dever, não é o Estado governando? Claro que sim!
O que acontece, muitas vezes, é a Itália ficar, momentaneamente, sem um chefe de governo, o que é quilometricamente diferente de "não ter governo"!
A injustiça do jornalista, a que me referi, é praticada contra os servidores públicos italianos, quem são quem faz o governo não só existir, mas funcionar.
O corpo de servidores públicos italianos não deixam que, nas ocasiões de crises políticas quanto à escolha dos chefes de governo, o "governo não exista", ao contrário, são a prova de que o governo existe sim!
Para que educar o cidadão mostrando que os servidores públicos são úteis a eles, não é senhor Clóvis? Melhor mantê-los na ignorância para que as reformas que interessam às empresas jornalísticas sejam aprovadas com o incentivo de muitos incautos.
Parabéns pela desinformação!
Inté,
Eis o artigo ao qual me refiro:
“Itália funciona, com ou sem governo
A sociedade toca a vida, seja qual for o governante
A Itália poderia servir como estudo de caso para o desencantado Brasil. Trata-se do país provavelmente recordista mundial de instabilidade política, a ponto de ter tido 65 governos nos 72 anos de República, aliás comemorados neste sábado (2).
Não obstante, o país progrediu extraordinariamente nesse longo período. Saiu da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) derrotada, humilhada e devastada.
Em tempo relativamente curto, em se considerando a destruição sofrida, recuperou-se a ponto de se tornar a sexta maior economia do mundo.
Estatísticas frias à parte, a qualidade de vida é admirável.
Diz da Itália, por exemplo, George Steiner, ensaísta e crítico literário, professor na mitológica Universidade de Cambridge: “Para o melhor ou para o pior, sob uma legião de governos conduzidos por um punhado de políticos excepcionalmente hábeis e cínicos, a Itália tem sido uma das mais estáveis sociedades no Ocidente. E, talvez, a mais humana”.
Desconfio que Steiner está se referindo à “dolce vita”, essa maneira despreocupada e tranquila de levar a vida.
Em outro ensaio, este sobre a Europa, o crítico diz que a Europa se define por seus cafés, desde “o café favorito de [Fernando] Pessoa em Lisboa” até “os balcões [de cafeterias, claro] de Palermo”, no sul da Itália.
Completa: “Desenhe o mapa dos cafés e você terá o essencial da ideia de Europa”. Da ideia de Itália, também. Pode ser uma visão ingênua, talvez elitista, mas para quem nasceu, cresceu e viveu a maior parte do tempo no frenesi de São Paulo, é uma ideia extremamente sedutora —capaz de sobrepor-se ao caos político que ocupa as manchetes.
É sintomático que, depois de uma semana de turbulência nos mercados financeiros, a bolsa de Milão tenha subido na sexta-feira (1º) apesar de dois partidos populistas — inimigos dos mercados — terem finalmente assumido o governo de número 66 da Itália no pós-guerra.
É por essa resiliência da “ideia de Itália” que digo que pode servir de exemplo para o Brasil.
Suspeito que a força da sociedade italiana e de sua cultura permita ao país viver razoavelmente bem apesar dos governos que entram e saem ao ritmo de motel.
A sociedade toca a vida, com ou sem governo. No Brasil, fica eternamente à espera de que um governo faça o país andar (ou, na maioria das vezes, o arruine).
O problema, agora, é saber se essa “ideia de Itália” consegue resistir à coligação entronizada neste sábado entre um populismo de esquerda (o Movimento 5 Estrelas) e um de direita, ainda por cima, xenófobo e fascistoide (a Liga, ex-Liga Norte).
É contra a natureza. Pesquisa do Centro Pew mostrou, no fim de 2017, que apenas 13% dos italianos adultos têm uma opinião favorável tanto da Liga como do Movimento 5 Estrelas. Não é, pois, um casamento por amor. Pior: 46% têm visão desfavorável de ambos.
No caso da imigração — cavalo de batalha da Liga — 75% de seus simpatizantes consideram os imigrantes um peso, quando, para 40% dos votantes do Movimento 5 Estrelas, são uma força para a economia.
Além disso, os dois movimentos declararam guerra à Europa, à qual a Itália está atada por compromissos que transcendem governos e que limitaram eventuais aventuras dos governantes.
Se a Itália resistir também a essa nova aventura, precisaríamos estudar seus segredos, cafés à parte."
Fonte: Clóvis Rossi (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/2018/06/italia-funciona-com-ou-sem-governo.shtml)