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Lilia Schwarcz diz não saber sobre economia! Tem certeza?, por Osório Barbosa.

 

Revista 451 Lilia 2

Lilia Schwarcz diz não saber sobre economia! Tem certeza?

 

por Osório Barbosa.

 

Estava a ‘foliaire’ a Revista Quatro Cinco Um, número 53, quando, às páginas 22/25, deparei-me com a entrevista da Professora Lilia Schwarcz!

Como venho adquirindo os livros da Professora (as biografias do Brasil e de Lima Barreto, pelo menos), me predispus a ‘leire’ a sua entrevista!

A matéria, segundo a revista é História e a frase de abertura é muito interessante, pois estou padecendo do mesmo mal: ‘A minha geração falhou’, também.

A Professora fala sobre ‘textão nas redes’, o que muito aprecio, pois ninguém escreve ‘Dom Quixote’ em 180 caracteres!

A entrevistadora é a Isabel Lucas.

Algumas coisistas que marquei – até chegar o que me levou a bem traçar essas linhas (<:):

 

Democracia. Como reconquistá-la, ou não perdê-la, ou tê-la em mente sempre, mesmo na sua imperfeição? Lilia Schwarcz nunca a perde de vista quando escreve sobre autoritarismo no Brasil, quando traça o perfil de seu país e vê nessa história traços de um sistema autoritário que tende a não se apagar e, a tempos [sic], se revela como uma força maior.” [Osório diz: “Tamu juntus ou tmj” Professora nessa corrida para não perdermos a nossa democracia! “Ruim com ela, um inferno sem ela”! E “vamu q vamu”!]

 

Mas emocionou-se [sic], a espaços, a desfazer mitos e ideias feitas que tornam mais duro o combate pela democracia, a tal democracia que considera em risco. É em nome dela que age sem pretender conquistar tipo algum de papel político.[Osório diz: Sempre que se age em nome da democracia se busca sim a conquistar um papel político, embora não diretamente para aquele que age, mas para a sociedade imantada pela democracia, sendo que dela faz parte aquele – aquela, no caso da Professora – que agiu.]

 

Primeira pergunta e resposta:

 

A sua actuação [portuga de portuga!] no Brasil é muito próxima do que em tempos se chamava de intelectual público, uma figura que vai dando referentes para pensar. Como se vê nesse papel?

Não me vejo exatamente como tal. Continuo a fazer o que fazia. Sou uma pessoa da academia [Osório diz: Já que praticamente inexiste serviço público prestado gratuitamente, creio que a Professora recebe salários da Universidade Pública em que atua. Adiantando assunto!], curadora adjunta no MASP, mas fui formada para ser isso que se chama de intelectual pública. Fiz escola pública, fiz universidade pública, dou aulas numa universidade pública e acho que, sobretudo neste momento, a universidade tem a obrigação de sair um pouco da sua redoma, do seu lugar de conforto. Minha orientadora, Manuela Carneiro da Cunha, sempre chamou atenção para o fato de uma atividade complementar a outra. Ela escreveu o capítulo sobre os indígenas na Constituição de 1988; tem um papel fundamental na preservação da floresta, na discussão do marco legal, na discussão sobre as terras indígenas. Eu tive uma influência muito grande da Manuela. E estou há um longo tempo dando aulas nos Estados Unidos, onde aprendi que os professores são muito avaliados pela sua atividade pública. No Brasil ainda há certo preconceito. As pessoas seguem muito a lógica do “ou”, e eu sou mais a lógica do “e”. Mas não sei se sou uma intelectual pública nesse sentido, não tenho nenhum papel político.”

 

Outra pergunta e resposta:

 

Vê as redes como um lugar de ódio?

Não. Ouço as pessoas falarem muito do algoritmo e de como ele destrói. Eu não demonizo as redes. Já tive problemas pessoais, já tive que me enfrentar com as redes, mas aprendi a chegar a mais pessoas, a ser mais clara e a respeitar os meus leitores. Cada vez que solto uma postagem tenho o vício de olhar novamente em cinco ou dez minutos, porque se eu tiver cometido um erro de português ou errado um nome, vou corrigir. Há haters, mas também reparei que os meus lovers brigam com os haters.

Sei que esses governos autoritários foram eleitos através desses meios; sei que são governos retrógrados, populistas e tecnológicos; mas vi uma pesquisa que mostrava que a direita - e isso é histórico, vem do nazismo sempre se cerca das últimas novidades tecnológicas. Veja a importância do rádio. E a esquerda diz "não", "eu não gosto", "eu sou contra”.

Assisti a um debate em que as pessoas diziam que, em vez do algoritmo, preferem o espaço silencioso da literatura. Eu também. Mas acho que o momento não nos permite a lógica do "ou"; acho que é a lógica do "e". Quando estou escrevendo meus livros preciso dessa concentração, desse silêncio, mas acho que se não ocuparmos esses espaços eles serão totalmente ocupados pelo outro lado.

Vivemos num momento em que as pessoas não leem [Osório diz: Um amigo, também Professor, Adriano Alencar Barbosa, diz o contrário: “atualmente as pessoas leem muito, basta vê-las sempre agarradas a seus celulares. O que se pode questionar é sobre conteúdo, mas, aí, já é outro assunto (qualidade, não quantidade)]. E quando leem é quase sempre de forma literal. Como se houvesse um desaprender da leitura que não seja literal. As minhas postagens que vão melhor são aquelas em que analiso imagens [Osório diz: Estou, atualmente, fora do mundo das redes sociais, mas gosto muito de análise de imagens! Adoro a do Michel Foucault sobre o quadro “As meninas”, do Velázquez. Talvez volte mais depressa para acompanhar a Professora!]. Isso é um treino da academia e é por isso que digo que não sou uma intelectual pública. Foi a academia que me ensinou a ler imagens. Quando trago uma imagem e a desmonto, desmonto as imagens do poder, ou desmonto as imagens da branquitude, que são os meus temas; desmonto as imagens do meio ambiente que são produzidas pelo governo. Não há ironia lá, então nem todos os meus posts são irônicos. Tenho uma ironia muito grande, é claro, com o presidente, mas esse é também o jeito de eu dar aula; sempre fui assim. Talvez a minha fase com a Companhia das Letras, que me faz escrever mais diretamente, ou mesmo a minha fase de alguns anos no museu, em que o pessoal diz: "Professora, texto de museu não é tese na parede. Seja mais generosa". Uso a ironia, mas uso muito as armas da academia, e tento mostrar, neste momento de tanto obscurantismo, de tanta crítica à academia, o que a academia faz por nós. Outra coisa que eu não sabia: nas redes, o meu texto é considerado um textão, e as pessoas leem. Vejo nos comentários que não leem apenas o começo ou o final. E agradecem. O meu público é muito jovem, majoritariamente jovem. O grosso acho que está entre dezenove e quarenta anos, um público que não viveu a ditadura militar, e então explico toda vez o que ela foi e quais os seus males. Explico a escravidão. Explico os meus temas e tento não entrar em temas que não são da minha especialidade, como a economia. Porque eu não quero errar.

 

Aqui meus cabelos, qual pelos no lombo de cachorro que pressente o perigo, se eriçaram!

 

Vamos a uns tópicos:

 

Osório diz:

 

Primeiro – A Professora recebe salários, logo, precisa administrá-los.

 

Segundo – A internet diz que a Professora é casada e, juntamente com o esposo, é proprietária de uma grande editora há mais de trinta anos.

 

Terceiro – A internet diz que a Professora é mãe de dois filhos!

 

Estes três primeiros itens induzem leigos, como o subscritor, a acreditar em economistas profissionais que dizem as pessoas que mais entendem de economia são as “donas de casa” e, pelo acima, tudo indica que a Professora Lilia tenha casa, claro.

 

Ademais, é inteligente demais para não saber preparar um simples “ovo poché” também na economia!

 

Aliás, que empresári@, no capitalismo, em especial, “só não pensa naquilo”: economia?

 

Pelo que entendi, a Professora afirma que, além da democracia, sua luta, via seus textos, é contra as mazelas devastadoras da escravidão, do genocídio contra os indígenas, as violências contra as mulheres, certo?

 

Então, perguntei-me: como resolver tudo isso sem entrar na economia?

 

Seria indelicado se eu me socorresse do “antigo legislador que chamam vulgo”, do qual fala Cervantes, e perguntasse se a Professora quer fazer omeletes sem quebrar os ovos?

 

Não seria justo que todos os que escravizaram, especialmente os negros, pagassem uma justa reparação por isso, uma vez que hoje muitos dos escravizadores nadam em dinheiro (economia)?

 

E as riquezas roubadas das terras indígenas, especialmente os metais e pedras preciosas, quem os compra e os beneficia mundo afora (economia)?

 

Quem pagará um serviço de vigilância para coibir os genocídios contra os indígenas (economia)?

 

Por que pagar salário menor para as mulheres que fazem os mesmos trabalhos que os homens (economia)?

 

A sociedade brasileira já faz isso a duras penas, mas o ideal seria pagar por isso quem enriqueceu praticando essas atrocidades!

 

Ah, eles não podem ser incomodados, pois são os financiadores das campanhas daqueles que poderiam cobrar por esses crimes de lesa-humanidade!

 

Quando a Professora diz: “Explico os meus temas e tento não entrar em temas que não são da minha especialidade, como a economia. Porque eu não quero errar.”, lembrei-me de Salvador Dalì que disse: “Não se preocupe com a perfeição – você nunca irá consegui-la.”

 

Então, admirada Professora, numa paráfrase: “não se preocupe em não errar – a senhora nunca vai conseguir.”

 

Se ninguém errasse, a ciência já tinha chegado ao fim!

 

As ciências não são construídas sobre dúvidas?

 

Um barbudo, aparentado religioso seu, certamente diria que, para por fim às mazelas devastadoras da escravidão, do genocídio contra os indígenas, as violências contra as mulheres, somente revendo o sistema econômico que criou esses monstros!

 

Mas, quem está disposto a isso?

 

Humilde e atenciosamente,

 

Osório Barbosa.

 

Daqui não quero passar para os fins de minha ousadia!

 

 

Notas:

 

<: - esta é a minha proposta para o sinal de ironia (https://www.osoriobarbosa.com.br/ideia/curiosidades/item/1357-sinal-de-ironia)